27/08/2011

Moviola Filmes e O Liberdade - Parte 2

Na continuação da conversa com Cintia Langie, fundadora da produtora pelotense Moviola e diretora do longa "O Liberdade", falamos sobre a dificuldade de fazer cinema no Brasil e a gratificação trazida para os participantes dos projetos.

FAZENDO CINEMA NO BRASIL

Fazer cinema é sempre dificil. Dificil ter uma idéia. Dificil confiar na ideia e levá-la adiante. Dificil montar a equipe. Dificil contagiar e envolver a equipe. Dificil dominar a tecnica. Dificil ter equipamento. Dificil contar uma história. Porém, ao mesmo tempo, fazer cinema é encantador e mágico. As pessoas querem ajudar, as pessoas tem compaixão por que enfrenta as dificuldades e ainda assim peita fazer cinema. Então, ao longo dessa pequena trajetória da Moviola tivemos muito isso: muitas dificuldades, mas muitos incentivadores que sempre deram força, desde o começo. A produção é o calcanhar de Aquiles do cinema brasileiro. Para produzir precisa-se de meios e para isso precisa-se de dinheiro. Dinheiro esse que não se tem. Então, produzir o filme (viabilizar tudo o que o roteiro pede) torna-se muitas vezes um trabalho braçal de muita criatividade. E é assim que a gente faz, como muitos outros coletivos de cinema fazem. Não somos uma produtora comercial, com sede, computadores e funcionários. Somos um coletivo de pessoas, cada uma com seu emprego, que se juntam para fazer os filmes. Trabalhamos nas nossas casas, com nossos equipamentos pessoais. Mas a questão técnica nunca foi um empecilho para fazer os filmes. A criatividade e a vontade de contar uma história vem sempre na frente. Nosso primeiro curta, o Katanga's Bar (está no youtube), tem muitos primeiros planos, pois só tinhamos uma câmera handcam mini-dv, sem microfone. Então, para captar melhor o áudio, chegávamos com a câmera bem perto do entrevistado. E assim vamos construindo nossa linguagem, enfrentando as limitações da técnica e criando desse modo uma essência. As principais dificuldades de produção encontradas são sempre relacionadas com a falta de recursos financeiros para alugar equipamentos. Mas sempre trabalhamos com a colaboração de apoiadores. No longa O Liberdade, por exemplo, contamos com o apoio da produtora pelotense In Cena, que emprestou seu travelling em troca do logo da produtora no filme. No curta Futebol Sociedade Anônima, contamos com apoio da Plug Produtora, que emprestou a grua e sua ilha para finalização. É assim. Temos um produto nas mãos, que é o filme, e daí conseguimos o que precisamos oferecendo esse espaço para divulgar as parcerias. Mas isso só é possível hoje pois fomos conquistando a confiança dos parceiros aos poucos. Fizemos um filme, lançamos ele, divulgamos, chamamos o público. Demos continuidade na produção, com outro filme, mostrando que queriamos mesmo fazer cinema. No terceiro filme era mais fácil os atores aceitarem participar de graça, pois já tinhamos certa experiência. No quarto curta - Estacionamento-, foi mais gente ao lançamento, o nome Moviola já era um pouco conhecido. No quinto curta foi mais fácil conseguir distribuição, Futebol Sociedade Anônima foi exibido nos curtas gaúchos da RBS, pois com a experiência dos filmes anteriores já não errávamos mais nas questões técnicas. Mas continuávamos errando, só que menos, cada vez menos. Errando se aprende muito a fazer cinema. Dar continuidade no trabalho é crucial para aprender e para mostrar à comunidade que se tem a determinação de seguir produzindo com seriedade, e isso é o motor para a produção funcionar.

Os cabeças da Moviola reunidos


FAZER CINEMA NO RIO GRANDE DO SUL
Fazer cinema independente no sul do Brasil é um desafio. Creio que fazer cinema no norte também... Trabalhar com cinema (que é uma arte complexa e um tanto quanto cara) em cidades do interior é sempre complicado. A dificuldade começa na equipe. Não haviam muitos técnicos com experiência em cinema na época que começamos. Tinhamos que ir formando as equipes. Hoje, com o curso de Cinema da UFPEL está melhorando. Os cursos de cinema tem dado ao mercado uma série de técnicos em diferentes áreas audiovisuais, o que qualifica, e muito, o trabalho. Outra dificuldade é a questão da falta de vontade de patrocinar projetos culturais nas cidades do interior. Creio que na capital seja mais fácil encontrar empresas com visão, que entendam a importância de se atrelar a iniciativas artísticas. Nas cidades do interior gira pouco dinheiro nessa área. Às vezes precisamos de apoio de alguma empresa para pagar os cartazes de divulgação e temos muita dificuldade em conseguir. Mas sempre driblamos essa dificuldade, contando com as parcerias que adquirimos desde o começo de nossa trajetória, em 2007. A Moviola hoje recebe muito carinho das pessoas da cidade. Isso nos emociona. Ganhamos o prêmio de Melhor Música na Mostra Gaúcha do Festival de Gramado deste ano, e parecia (e de fato era) que toda a cidade havia sido premiada.



Cine Guarany, Lançamento MARCOVALDO


MARCOVALDO E OS FESTIVAIS
Marcovaldo é o sexto curta da Moviola. Foi feito em 2010 sem nenhum patrocinio, nem lei de incentivo. Orçamento caseiro, num total de uns R$ 3 mil aproximadamente. O curta foi concluido e lançado em outubro de 2010. O lançamento já foi surpreendente para a equipe, pois mais de mil pessoas foram ao Theatro Guarany ver o trabalho. Uma das características da Moviola é a vontade e determinação na "divulgação e distribuição". A estratégia de divulgação de Marcovaldo, além de teasers, cartazes e emails, foi confeccionar sacolinhas de lixo para carros com a marca do filme. Como o filme aborda a questão do lixo, achávamos que poderia funcionar utilizar as sacolinhas. De fato foi um sucesso e todos queriam sua sacolinha. Fizemos fotos com vários usos para essa sacola e isso faz com que muita gente soubesse do lançamento. Depois disso, passamos a fazer cópias do filme e passamos a enviar para uma série de festivais. Marcovaldo já foi exibido em diversos festivais nacionais e também no exterior (França, Uruguai e Argentina). A lista completa de prêmios do curta está no site www.moviolafilmes.com. A recepção desse curta é muito interessante. Já ganhamos três prêmios de melhor filme pelo "Júri Popular", no Pará, em Marselha/França e em Oberá/Argentina. Isso significa que o filme se comunica com a platéia. E no final das contas, o que nos motiva a fazer cinema é exatamente isso: tocar o público.

Sacolinha de Marcovaldo


E A GRANDE ESTRÉIA DE O LIBERDADE
O Liberdade será lançado no dia 06 de outubro, quinta-feira, às 20h, no Theatro Guarany, em Pelotas, com entrada Franca. Depois disso, estaremos procurando distribuidoras que topem espalhar o longa pelo país. Iremos enviar também a diversos festivais, queremos também apoio para lançar o filme em POA, no Rio de Janeiro e em São Paulo. A meta é levar o filme ao maior número de pessoas possíveis, pois a história desse bar merece ser contada, um bar que de dia atende aos agricultores da Colônia de Pelotas e nas noites de sexta e sábado transofrma-se num reduto de Chorinho de alta qualidade. Em breve, o primeiro longa da Moviola.

E para finalizar, eis mais um teaser do filme:



FICHA TÉCNICA DE O LIBERDADE

Roteiro e Direção
Cíntia Langie e
Rafael Andreazza

Direção de Fotografia
Alberto Alda

Direção de Arte
Bianca Dornelles

Produção
Alexandre Mattos
Assistente de produção
Milena Lopes

Pesquisa
Daniela Pinheiro e
Cíntia Langie

Montagem
Cíntia Langie
Finalização
Thiago Rodeghiero

Operador de Câmera
Felipe Campal
Chico Maximila

Som direto
Davi Mesquita e
Lauro Maia

Finalização de áudio
Lauro Maia

Estagiários
Andruz Vianna
Ana Luisa Monteiro Correard

Foto Still
Bianca Dornelles

Arte Gráfica
Renato Cabral

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