16/01/2008

3ª Diária: Versão do Diretor - Sábado, 23.11

Texto originalmente publicado em 13/11/2007, no blog www.sobrevivendoaojogo.blogspot.com

Raul procura seu antigo mestre, Odilon, em OS BATEDORES. É uma alternativa final e sem nexo pois Odilon é o tipo de sujeito que não tem 30 mil na manga. Mas apesar de estar confinado a uma cadeira de rodas, Odilon dá um jeito de sobreviver, passando golpes por telefone, de maneira casual, enquanto assiste a uma TV e vai empurrando a vida com a barriga. Este é uma cena que não estava no cerne do roteiro de os Batedores, enquanto outras que haviam acabaram caindo por água... Mas me lembro quando sugeri ao Édnei que o Raul tivesse uma namorada. Namorada não, disse o Édnei. Sempre foi resoluto quanto a participação de personagens femininas... Vai entender. Então sugeri o pai do Raul. Larápio das antigas. Recebi um olhar desconfiado. O que achava é que precisávamos explicar mais sobre Raul, de onde ele veio, para onde vai (isso está sendo cuidado nos dias correntes...). Ao final de nossa negociação, e ainda na dúvida se não seria ainda mais complicado de realizar o filme com um monte de cenas a mais (Flashbacks acabaram pingando) o martelo foi batido sobre o "mentor" de Raul. Eu prometi que se estávamos na chuva era para nos molharmos e mesmo com cenas elaboradíssimas a mais, íamos dar conta. Como o Pedroso andava dando cabeçada sobre que final ia dar ao roteiro, com a chegada destas novas perspectivas, o final acabou se delineando. Traição, é o que os crápulas praticam. A maior troca foi se enxugar uma cena com velhas larápias. Foi uma troca justíssima. E de quebra deu a possibilidade do Jack Gerchmann escalar o Artur Pinto para o papel. E que escalação. Eu estava preocupado em delinear a personagem em pouco tempo mas acho que o Odilon sempre foi um cara auto-explicativo. O Artur, como é dramaturgo, leu o roteiro e sacou de cara todo o tom. Ainda brifei algo com ele no sábado mas ele me olhou como se fosse o óbvio. E era. Abrimos câmera e tudo fluiu com uma naturalidade impressionante, o Marco e ele repetiram umas 3 vezes a cena inteira pra cada plano e só uma vez erraram, quando a grana cenográfica foi roubada pelo Soriano. E em cada take um elemento ia se adicionando. Eu não sabia a palavra certa para definir o método do Artur e o Soriano me esclareceu: partitura. Cada novo elemento que ia surgindo ou que eu sugeria ele ia decorando e compondo nos tempos certos, sem deixar nenhum passar. E a cena ia enriquecendo. Então, Odilon passa golpe, abre a porta eletrônica de casa (ele é cadeirante), assiste TV, recebe o pupilo, coça o nariz, diz que o "Ligeiro é Lento" (eheheheh) e alcança a grana. Ainda leva um beijo na cabeça do empolgado Soriano. O legal é criar estes climas conflitantes. Na cena do Marcião, o fio da navalha, o perigo eminente; na cena do Odilon, a camaradagem, a salvação. O curta, apesar de curta, é costurado destes altos e baixos. Vou sonhando com a trilha sonora que cria o clima perfeito, uma montanha russa sincopada, a percussão crua, um ritmo um pouco retrô... E la nave va.

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